quinta-feira, 29 de junho de 2017

Direitos autorais
Valesca Santos - 05/05/2015
Edito-me,
se assim for necessário
todo dia
do amanhecer ao anoitecer
sou várias
porções distribuídas
manuscritos
ao longo dos anos
agrego capítulos
minha melhor obra
sou
pois, se não sabemos
se não consideramo-nos seres únicos
primordiais
de nós não renascerá volumes
nem mesmo segunda edição
nada do que existiu será
pois,
o que existiu
não teve validação
nem direitos autorais





quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ESPERANÇA

Quando vier, venha para ficar.

Como a música que ouvimos no bar,


como a noite, que juntos, ousamos abraçar.


Quando vier, venha sem medo,


como o som de nossos gemidos na cama embalada por borboletas.


Quando vier, traga consigo apenas os sorrisos,


deixemos as lágrimas, que separadas produzimos, 


verterem na lembrança da incerteza.


Quando vier, estarei aqui, de braços e coração abertos.


Iremos além dos beijos e do sexo, iremos ao infinito


onde somos apenas almas livres.


Valesca Santos - Esperança - 15/11/2016 















                                                                                                                                                   Foto> V. S.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A EDUCAÇÃO NO FRONT DE BATALHA

Artigo publicado no Jornal Opinião 
Encantado/RS em 22 de julho de 2016

“Não, não temos medo. Queremos aprender” – este é o apelo de uma adolescente de quinze anos que mora numa das regiões mais pobres e perigosas de Bengasi, no Front da batalha da Líbia. É lá que uma corajosa mulher trava sua batalha particular de vencer usando apenas o saber. Fauzia Abeid prossegue dando aulas às suas alunas sob intenso combate, explosões de bombas e disparos contínuos.

Fauzia quer dar um senso de normalidade ao contrário da loucura da guerra que desfila diante de seus olhos, todos os dias e noites de sua vida às suas alunas, que querem apenas aprender. Elas fazem parte de um grupo de famílias com pouquíssimos recursos que não encontram condições de abandonar o local e migrar para outras áreas, distante dos conflitos.

A escola permanecera fechada durante um ano, sofreu saques e depredações de todos os tipos, mas em resposta ao apelo dos pais e das próprias crianças, Fauzia enfrentou seus medos e voltou a lecionar. Com a ajuda das famílias que criaram um fundo destinado aos consertos básicos necessários para que a escola pudesse receber as alunas, através de um único acesso possível, um buraco na parede nos fundos do prédio, Fauzia devolveu a elas, e a si própria, um pouco da dignidade usurpada, manchada com dor e perdas.

Professora e alunas trilham diariamente um caminho perigoso em busca do direito à vida, em meio à guerra que racha o País em dezenas de facções que lutam entre si, enquanto a educação e o direito de ir e vir fracassa, mas o comércio de armas, jihadistas, guerreiros tribais e traficantes de pessoas prosperam. “Precisamos viver. Precisamos de um futuro” – diz Fauzia.  Esta é apenas uma das muitas situações absurdas de uma luta egoísta onde, para muitos, não existem defesas.

No mundo há cerca de 124 milhões de crianças e adolescentes sem acesso à educação básica. A concentração maior está em países onde acontecem conflitos armados e a pergunta é: como é possível que nos tempos atuais onde a informação tecnológica avança em ritmo acelerado, milhões de crianças, adolescentes e adultos, dentre os quais, a maioria mulheres, extirpadas de qualquer direito, tem suas vidas manipuladas de forma tão vil?

Segundo a investigadora da Human Rights Wach (HRW), organização internacional não-governamental que defende e realiza pesquisas sobre os direitos humanos, com sede em Nova York, Elin Martinez, os fatores responsáveis de decisão de quem pode atravessar a porta de uma escola e quem não pode é a fraca monitoração e as precárias políticas sociais contra a discriminação.

Exigência de propinas, a violência, os castigos corporais, os abusos sexuais relacionados às meninas e jovens, os casamentos infantis, a condição de refúgio em outros países, a fome e a miséria extrema estão no topo da lista da evasão escolar e da exclusão forçada. No Brasil 2, 8 milhões de crianças entre 4 e 17 anos, estão fora da escola.

Há metas, como as definidas pelo MEC (Ministério da Educação), de colocar alunos nas escolas, há projetos para tornar mais acessível a ampliação das escolas, há crianças com vontade de aprender e professores educadores, no mundo todo, que querem ensinar. Muitas dessas propostas se extinguem pelo caminho, muitos desses projetos ficam apenas no papel e na promessa, muitas crianças ainda tem seus sonhos desfeitos, mas há uma pequena porção que vai além das próprias forças, que transpõem muros, desviam de balas trocadas, que seguem adiante, mesmo correndo riscos.

Há muitas “Fauzias” no mundo, há muitas crianças iguais as nossas que precisam de nossa voz, de nossa coragem de nossas atitudes para receber o maior e mais valioso presente: o direito ao aprendizado digno. Fica no coração a esperança de que nunca mais precisemos pedir: chega de guerras, queremos a paz. Queremos humanidade.

Valesca Santos
Escritora Romancista
Membro do Conselho Municipal de Cultura de Encantado
Acadêmica nº 28 da ALIVAT/Academia Literária do Vale do Taquari




  

sábado, 9 de julho de 2016

NOITE

À noite
úmida
eu saudade
ele taciturno
imagino, sobrancelhas unidas
de repente, lobo
e um ramalhete de flores
coisas estranhas
mais estranhas do que a própria palavra
seriam sentimentos ou breves loucuras?
seria real demais
se eu viesse a descobrir
por isso prefiro a aurora boreal
mágica e encantadora
à dolorida ausência
que aflora na realidade

Noite - maio/2016
Valesca Santos
Direitos autorais reservados

sexta-feira, 17 de julho de 2015

LITERATURA, LEITURA E APRENDIZADO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL OPINIÃO ENCANTADO - DIA 17/07/2015


Coluna mensal do Conselho Municipal da Cultura
LITERATURA, LEITURA E APRENDIZADO
A literatura é uma manifestação artística que usa a palavra como matéria-prima extraindo dela seus múltiplos significados ou usando-a como um instrumento para falar da realidade. É através dela que surge o escritor, um ser social inserido no povo, o qual capta situações e sensações recriando essa realidade ou transfigurando-a.
A literatura embora irremediavelmente ligada à linguagem é livre para exercer o poder de subverter regras e dar outra significação às palavras na busca de novos sentidos, como por exemplo, na obra “O livro sobre o nada”,  do poeta Manoel de Barros: “ [...] Eu quero ser lido pelas pedras / as palavras me escondem sem cuidado” e, segundo o escritor Guimarães Rosa, [...] “a literatura é feitiçaria que se faz com o sangue do coração humano[...]”.
São muitos os mestres, os grandes escritores, os meios literários que descobriram que - a palavra é pá que lavra, vai abrindo sulcos a cada frase concluída como afirma Lenio Streck, professor, escritor e advogado, apresentador do programa Direito e Literatura, pela TV Unissinos.
O poder da escrita está intimamente ligado ao incrível dom que o ser humano tem de aprender através da leitura, onde nem mesmo é necessário que se ouça a própria voz. Mas a convivência com a leitura nem sempre é fácil. O ato de ler é uma arte que exige paciência e dedicação e nos propõe um grande desafio que, se aceito, é capaz de modificar na nossa psique o ato de pensar.
Pensar é falar indagando, ou seja, quando pensamos retiramos imagens e forças extraordinárias da nossa memória e acrescentamos à nossa inteligência e então aprendemos. As fronteiras que encontramos na realidade da vida não existem no pensamento, porém, deixamos que as influências adquiridas pela convivência destruam as frágeis pontes recém construídas ainda na primeira infância, quando - por meios considerados mais modernos, mas que excluem quase que totalmente o hábito da leitura de livros - caímos no ócio do pensamento pronto.
A literatura engloba diversos meios de aprendizado como a família, a escola, o professor, o aprendiz, o escritor e o leitor e, a beleza da palavra que une esses meios está na incrível junção, dentro das páginas de um livro, do que é mágico com o prosaico ou do que é fantástico com o que é simples e comum, real demais.
O livro é a magia que nos liberta do ócio, da mesmice. É a chave que abre nossa mente, estimula nosso aprendizado e é forjada a partir de nossas experiências de vida. Allan de Botton, escritor e filósofo suíço afirma que – a escrita tem o poder de alterar a criação do ‘eu’.
O que esperam de nós quando crianças é que aprendamos a ler e a escrever, mas não basta apenas sermos alfabetizados se não for semeado o prazer pela leitura. Com ele, somos capazes de perceber o ponto de partida que nos impulsiona a querer aprender mais e mais, o ponto que ultrapassa o limite do ler e escrever - para ler, escrever, interpretar e defender sua interpretação. Quem adquire o saber e o utiliza na busca de mais, entende que, lendo, jamais estará no mesmo lugar e espaço.
Sabemos que ninguém pode estar em outro tempo ou ocupar outro lugar senão o que se está agora, mas são essas as maravilhas da literatura. Através dela o tempo e o espaço deixam de ser um obstáculo e passam a ser um caminho.
Valesca Dos Santos Pederiva
Membro do Conselho Municipal da Cultura